18.12.23
PR6 PCT Rota dos Moinhos | Ribeira do Carapito | Vila Cova de Covelo
Emília Matoso Sousa
11 maio 2022
10 Km | Circular | 285 m desnível acumulado | Fácil
Localização: Vila Cova de Covelo, localidade pertencente à União das Freguesias de Vila Cova do Covelo e Mareco, no município de Penalva do Castelo, distrito de Viseu.
É no largo da igreja matriz, dedicada a N. Sra. da Esperança, que começa o percurso que nos vai dar a conhecer esta simpática localidade beirã, marcadamente rural, em cuja envolvente se esconde um recanto natural que é o seu ex-libris. Mas já lá vamos.
Antes de inicar a marcha, ainda temos tempo para apreciar os magníficos painéis de azulejos da autoria de uma ceramista da zona de Mangualde, a Maria do Amparo. O bonito contraste do azul dos desenhos com as paredes de pedra do casario da aldeia prende a nossa atenção.
Há muitos trabalhos desta ceramista espalhados por aqueles concelhos e todos revelam pormenores dignos de serem devidamente apreciados. Vila Cova do Covelo está implantada quase em anfiteatro, pelo que sair da aldeia implica subir até se atingir uma estrada municipal, onde somos confrontados com dois caminhos possíveis.
Optamos por seguir pelo que sabemos que nos vai proporcionar melhores paisagens. O ponto alto onde nos encontramos oferece-nos panorâmicas para a aldeia, para as encostas que a envolvem e para a serrania em redor. Passamos por campos agrícolas, quase sempre em socalco, por hortas, por vinhas e também por algumas matas de pinheiros bravos e pequenos bosques. Os muros de pedra são uma constante, aqui, como noutras aldeias por onde passámos em anteriores caminhadas, e nunca deixam de nos surpreender pela sua beleza. São muros que vêm de longe, dividem as propriedades e são (foram) edificados em alvenaria de pedra seca, ou seja, sem recurso a qualquer argamassa a 'colar' as pedras. Têm a sua técnica, naturalmente, e reclamam arte e engenho para encaixar as pedras umas nas outras de forma a que aguentem as intempéries. E aguentam! Estão ali firmes. Estamos numa zona em que o granito 'brota' da terra em quantidade (e qualidade) suficiente para que não falte material de construção. Seja para muros, seja para casas ou outras estruturas.
E eis que chegamos ao tal 'ex-libris'. A ribeira do Carapito, também conhecida por rio Carapito. Um autêntico espetáculo para a vista, tal a riqueza e a exuberância da sua galeria ripícola. O leito da ribeira ora corre sereno, ora forma pequenos açudes, ora se despenha em múltiplas cascatas, cujo som nos transporta para outra realidade. E quando as árvores se refletem no espelho de água da ribeira, as imagens são incríveis.
Dá para perceber que aquele ambiente é 'lar' para uma biodiversidade riquíssima, tanto ao nível da flora, como ao da fauna e da avifauna. O canto da passarada é disso prova e oferece-nos uma banda sonora digna de registo.
Não conseguimos identificar o canto flautado dos papa-figos, pois consta que eles andam por ali e estamos na época deles. E seguimos, durante sensivelmente dois quilómetros, ao longo desta maravilha da Natureza. Atravessamos a ribeira por cima de uma pequena e pictórica ponte de madeira e, aí, as águas da ribeira transformam-se em rápidos galgando por cima de enormes blocos de granito.
Um pitoresco moinho recuperado, sobrevivente de outros tempos, demonstra bem que ali perto havia vida, pessoas para quem os cereais eram fundamentais. Eram os habitantes da aldeia do Carapito, hoje abandonada e em ruínas. Para lá chegar, temos de atravessar novamente para a outra margem.
Subimos a encosta e vamos dar a um de passadiço de 60 metros suspenso sobre a ribeira. O passadiço está a ser alvo de uma intervenção para substutuição das traves de madeira que constituem o piso, apresentando ainda zonas em que as tábuas ainda não foram colocadas. Ainda assim, com cuidado redobrado, dá para atravessar. Daqui, avançamos para a aldeia abandonada.
As ruínas, que é tudo o que sobra, revelam uma aldeia, como seria de esperar, de tradições rurais. Não há muito a dizer sobre os restos de edifícios por que vamos passando a não ser que, pela quantidade de casas e de estruturas ainda visíveis, se percebe que ali funcionou, em tempos, um núcleo habitacional autossuficiente em termos de subsistência. Desde logo, o moinho que tínhamos deixado para trás.
Antes de iniciarmos a marcha de regresso, ainda fomos dar uma espreitadela ao rio Mondego que, sabíamos, passava ali perto, para tanto fazendo um pequeno desvio. Regressamos, então, ao ponto de partida, mesmo a tempo de visitar a igreja matriz, que acabara de abrir portas para a missa das 13h e que já tinha à espera alguma clientela. O passeio terminou da melhor forma, a degustar alguns produtos (quase todos) regionais.