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Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

21.03.23

PR6 GVA: Rota das Alminhas (Vila Nova de Tazem)


Emília Matoso Sousa
Data: 25 fevereiro 2023
O  percurso
17 Km  (fizemos 19,8) |   Circular   |   257 m desnível acumulado   |   Grau dificuldade: fácil
Pontos de interesse
Alminhas e capelas
Localidade
Vila Nova de Tazem | Freguesia do município de Gouveia, distrito da Guarda. É a única vila do concelho.
Observações | Algumas deficiências ao nível da sinalização
Le véritable voyage de découverte ne consiste pas à chercher de nouveaux paysages, mais à avoir de nouveaux yeux.”, Marcel Proust
Hoje, era dia de explorar Vila Nova de Tazem, através de um percurso que tem início na sua avenida principal, perto da Igreja Matriz, e que passa por Tazem e Paçoinhos, duas das suas aldeias. A paisagem é predominantemente rural, com as vinhas da sub-região da Serra da Estrela a merecer destaque. Dali, saem as uvas que darão origem aos famosos vinhos de altitude, cujas caraterísticas ‘montanhosas’ não passarão, certamente, despercebidas aos palatos mais apreciadores e informados. Que os há!

20230225_102516.jpg20230225_104731.jpg20230225_103114.jpgNo entanto, não é uma viagem pelo mundo dos vinhos que o trilho nos propõe, mas sim pelo património religioso da zona, onde é possível encontrar nada menos do que 26 alminhas e seis capelas, não esquecendo a Igreja Matriz da vila, dedicada a N. Sra. da Assunção. Igreja que nasceu da vontade benemérita de Joaquim Borges, médico e natural da terra, e foi construída entre 1894 e 1903. O seu contributo estendeu-se a outras obras, pelo que não devemos estranhar que a principal avenida da vila tenha o seu nome.

20230225_094326.jpgMas vamos às alminhas… Antes de mais, enquanto património artístico-religioso, elas são de expressão marcadamente popular, como evidencia a sua simplicidade. São locais de culto às almas do Purgatório e traduzem bem a profundidade religiosa destas populações. 

20230225_100015.jpgO Purgatório que, muito sucintamente, enquanto dogma da Igreja Católica, foi instituído  durante o Concílio de Trento, convocado pelo Papa Paulo III realizado no século XVI, entre 1545 e 1563. Corresponde a um lugar de passagem, espécie de limbo entre a Terra e o Reino dos Céus, cuja finalidade é ‘purificar’ as almas que, morrendo em estado de graça, são ainda detentoras de algumas imperfeições. Esta situação só é válida para pequenas falhas ou pecados ligeiros, pois que os praticantes dos pecados mortais não têm lugar no referido Reino. Ora, as alminhas materializam, precisamente, a piedade cristã, de raíz popular, de devoção às almas no Purgatório. Tudo motivado pela convicção institucionalizada de que a saída das almas de tão indefinida situação dependia dos vivos, isto é, da quantidade das suas orações... e esmolas.

20230225_103400.jpgAs alminhas estão também associadas à proteção de viajantes, daí a sua frequente localização em caminhos isolados ou em encruzilhadas. Na Beira Alta são muito comuns e atualmente, devido à transformação dos tecidos rurais em urbanos, podem ser também encontradas nos muros e fachadas das casas, bem como nas bermas de estradas municipais e nacionais. De tal forma, que o que nos surpreende é encontrá-las nos seus locais tradicionais: caminhos rurais ou até na beira de um caminho florestal.

20230225_121444.jpg20230225_112404.jpg20230225_132052.jpg20230225_120043.jpgNão encontrámos as 26 alminhas, ainda que muito perto disso, apesar de termos seguido com rigor o traçado do caminho, e apenas conseguimos entrar numa das seis capelas, a única que estava aberta.20230225_114623.jpg20230225_114521.jpgAinda assim, o trilho revelou-se bastante interessante com cenários muito bonitos. É curioso observar as diferenças entre as vinhas velhas, na sua pacata e consolidada existência (algumas ainda suportadas por esteios) e as mais recentes, a formar esquadrias quase milimétricas e preparadas para cumprir os ambiciosos objetivos impostos por métodos de produção mais intensivos; ou constatar que neste mundo um pouco ‘louco’, e em zonas do país ‘ditas’ remotas, há quem cultive e crie os seus próprios alimentos, esses, sim, verdadeiramente gourmet; ou questionar como será viver-se inserido numa paisagem que muda de cor a cada três meses…

20230225_130149.jpg20230225_130921.jpg20230225_132603.jpg20230225_133302.jpg20230225_134642.jpgE por falar em cor, algumas flores silvestres começam já a surgir… e a fazer surgir em mim uma nova curiosidade: conhecer os seus nomes. Lá chegarei!20230225_131708.jpg20230225_130444.jpg20230225_123239.jpgRegressados a Vila Nova de Tazem, ainda passámos pelo monumento que homenageia todos os que, noutras paragens, procuraram melhores oportunidades de vida. As casas, temporariamente fechadas ou com elementos decorativos no exterior alusivos a vários países, revelam que aquela é uma zona onde o fenómeno da emigração é significativo. 

20230225_115756.jpgPerto da igreja, alguns homens praticavam um jogo tradicional, a malha. Ambientes diferentes, culturas diferentes! A chuva, que entretanto chegou, obrigou-os a bater em retirada e o mesmo fizemos nós, pois uma ‘carga de água’ não era o final de tarde que tínhamos programado. 

20230225_151829.jpg20230225_144452.jpg

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