PR6 GVA: Rota das Alminhas (Vila Nova de Tazem)
17 Km (fizemos 19,8) | Circular | 257 m desnível acumulado | Grau dificuldade: fácil
Le véritable voyage de découverte ne consiste pas à chercher de nouveaux paysages, mais à avoir de nouveaux yeux.”, Marcel Proust
No entanto, não é uma viagem pelo mundo dos vinhos que o trilho nos propõe, mas sim pelo património religioso da zona, onde é possível encontrar nada menos do que 26 alminhas e seis capelas, não esquecendo a Igreja Matriz da vila, dedicada a N. Sra. da Assunção. Igreja que nasceu da vontade benemérita de Joaquim Borges, médico e natural da terra, e foi construída entre 1894 e 1903. O seu contributo estendeu-se a outras obras, pelo que não devemos estranhar que a principal avenida da vila tenha o seu nome.
Mas vamos às alminhas… Antes de mais, enquanto património artístico-religioso, elas são de expressão marcadamente popular, como evidencia a sua simplicidade. São locais de culto às almas do Purgatório e traduzem bem a profundidade religiosa destas populações.
O Purgatório que, muito sucintamente, enquanto dogma da Igreja Católica, foi instituído durante o Concílio de Trento, convocado pelo Papa Paulo III realizado no século XVI, entre 1545 e 1563. Corresponde a um lugar de passagem, espécie de limbo entre a Terra e o Reino dos Céus, cuja finalidade é ‘purificar’ as almas que, morrendo em estado de graça, são ainda detentoras de algumas imperfeições. Esta situação só é válida para pequenas falhas ou pecados ligeiros, pois que os praticantes dos pecados mortais não têm lugar no referido Reino. Ora, as alminhas materializam, precisamente, a piedade cristã, de raíz popular, de devoção às almas no Purgatório. Tudo motivado pela convicção institucionalizada de que a saída das almas de tão indefinida situação dependia dos vivos, isto é, da quantidade das suas orações... e esmolas.
As alminhas estão também associadas à proteção de viajantes, daí a sua frequente localização em caminhos isolados ou em encruzilhadas. Na Beira Alta são muito comuns e atualmente, devido à transformação dos tecidos rurais em urbanos, podem ser também encontradas nos muros e fachadas das casas, bem como nas bermas de estradas municipais e nacionais. De tal forma, que o que nos surpreende é encontrá-las nos seus locais tradicionais: caminhos rurais ou até na beira de um caminho florestal.
Não encontrámos as 26 alminhas, ainda que muito perto disso, apesar de termos seguido com rigor o traçado do caminho, e apenas conseguimos entrar numa das seis capelas, a única que estava aberta.Ainda assim, o trilho revelou-se bastante interessante com cenários muito bonitos. É curioso observar as diferenças entre as vinhas velhas, na sua pacata e consolidada existência (algumas ainda suportadas por esteios) e as mais recentes, a formar esquadrias quase milimétricas e preparadas para cumprir os ambiciosos objetivos impostos por métodos de produção mais intensivos; ou constatar que neste mundo um pouco ‘louco’, e em zonas do país ‘ditas’ remotas, há quem cultive e crie os seus próprios alimentos, esses, sim, verdadeiramente gourmet; ou questionar como será viver-se inserido numa paisagem que muda de cor a cada três meses…
Perto da igreja, alguns homens praticavam um jogo tradicional, a malha. Ambientes diferentes, culturas diferentes! A chuva, que entretanto chegou, obrigou-os a bater em retirada e o mesmo fizemos nós, pois uma ‘carga de água’ não era o final de tarde que tínhamos programado.