PR5 GVA Rota do Vale de Cadela
E de novo o silêncio cresce a toda a volta, desde a montanha que fico a olhar até me doerem os olhos. Olho-a sempre, interrogo-a (...) Um diálogo ficou suspenso entre nós ambos desde quando? Desde a infância talvez, ou talvez desde mais longe.” Vergílio Ferreira, Alegria Breve
Um pouco mais acima, já em pleno andar intermédio do Parque Natural da Serra da Estrela, situa-se a Tapada de Santa Cruz, que se estende por cerca de um quilómetro e que apresenta uma vegetação constituída maioritariamente por matos de espécies arbustivas, com destaque para as giestas, também conhecidas por maias.
Passamos pelo que resta da Casa da Luz, hoje não mais do que uma imagem romântica e ‘apagada’ de um tempo em que produziu energia para a indústria têxtil local, ajudando-a a prosperar até se tornar uma das mais importantes do país. Isto, entre a segunda metade séc. XIX e a primeira do séc. XX. Tudo com a ajuda da ribeira Ajax, obviamente.
A par do seu aproveitamento hidráulico para produzir energia, as águas da Ajax também dão vida aos campos agrícolas da zona, missão que é cumprida por meio de uma levada antiga que nos ladeia durante um troço do percurso.
A partir daqui ia ser subir, subir, subir. A pior parte do percurso. Ou a melhor, dependendo do ponto de vista. A primeira parte, ligeiramente ‘técnica’, por ser íngreme e pedregosa. Entramos numa zona dominada por formações graníticas de formas e dimensões diversas. Granito por todo o lado. E arbustos queimados, em resultado de um incêndio aparentemente recente. É doloroso observar como, ano após ano, incêndio após incêndio, a paisagem da serra se vai alterando. É verdade que mantém a sua imponência e beleza; é verdade que, a seu tempo se regenerará e reinventará numa miríade de novas paisagens; mas também é verdade que neste ‘processo’ se perdem tesouros de valor inestimável, quer ao nível da flora, quer da fauna.
As vistas vão-se tornando cada vez mais amplas e incríveis. Já quase no topo, um miradouro convida a uma paragem. Uma paragem simplesmente para desfrutar. Olhar em volta, para a imensidão do que a nossa vista alcança, e para o leque de cores que nos rodeiam ou, simplesmente, fechar os olhos e sentir, ouvir, e cheirar a natureza. Um deleite para os sentidos e uma experiência difícil de descrever.
Chegamos novamente ao Curral do Negro e, no agradável e acolhedor bar do parque de campismo, tomamos uma bebida refrescante como que a adiar a hora de deixar aquele lugar tão apaziguador.