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Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

29.05.23

PR5 GVA Rota do Vale de Cadela


Emília Matoso Sousa
Data: 10 de abril 2023
O  percurso
13,4 Km  |  Circular |  469 m desnível acumulado   |   Grau dificuldade: moderado
Pontos de interesse
Curral do Negro; Tapada de Sta. Cruz; Mata da Câmara 
Localidade
Gouveia | Cidade do distrito da Guarda.
E de novo o silêncio cresce a toda a volta, desde a montanha que fico a olhar até me doerem os olhos. Olho-a sempre, interrogo-a (...) Um diálogo ficou suspenso entre nós ambos desde quando? Desde a infância talvez, ou talvez desde mais longe.” Vergílio Ferreira, Alegria Breve
O percurso de hoje leva-nos à descoberta de algumas belezas naturais que envolvem o território de Gouveia, enquadradas no Parque Natural da Serra da Estrela e no Geopark Estrela (Mundial da UNESCO). O que se pode esperar de uma cidade que se situa a 700 metros de altitude, numa encosta da serra mais alta de Portugal Continental? Horizontes a perder de vista, paisagens deslumbrantes e natureza… No mínimo!

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Propõe-nos o percurso uma viagem pela biodiversidade local com passagem por quatro 'estações'. A partida é do Curral do Negro, a três quilómetros do centro de Gouveia, e a sensivelmente 900 metros de altitude, já a caminhar para o andar intermédio da serra. Trata-se de um espaço florestal bastante agradável, ali mesmo, às portas da cidade, ótimo para passear ou fazer um piquenique no meio de castanheiros, carvalhos, faias, bétulas, pinheiros-bravos e outras espécies arbóreas. Para os apreciadores de campismo, há ali um pequeno parque que tira todo o partido da excelente localização. Esquilos-vermelhos e pica-paus, que fazem parte da fauna local, é que não tivemos a sorte de vislumbrar.

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Um pouco mais acima, já em pleno andar intermédio do Parque Natural da Serra da Estrela, situa-se a Tapada de Santa Cruz, que se estende por cerca de um quilómetro e que apresenta uma vegetação constituída maioritariamente por matos de espécies arbustivas, com destaque para as giestas, também conhecidas por maias.

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Ribeira Ajax: Água é força, é energia, é vida.
Avançamos, em descida, na direção da Mata da Câmara, um troço muito aprazível, com árvores autóctones e animada pelo som da ribeira Ajax, ou ribeira de Gouveia, a que aqui nos juntamos e nos irá acompanhar até ao perímetro urbano da cidade. Ouvimo-la correr, vemos a sua fantástica galeria ripícola, onde predominam os carvalhos e os castanheiros, mas quase não a conseguimos ver, camuflada que está pela densa vegetação. 

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Tivemos novo encontro com ela, desta vez num recanto paradisíaco, onde também são ainda visíveis vestígios de antigos moinhos de rodízio. Atravessamos a ribeira, com mil cuidados e com a ajuda de cabos lá existentes, pois tem de  se caminhar sobre umas pedras muito irregulares e escorregadias, e seguimos viagem.

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Passamos pelo que resta da Casa da Luz, hoje não mais do que uma imagem romântica e ‘apagada’ de um tempo em que produziu energia para a indústria têxtil local, ajudando-a a prosperar até se tornar uma das mais importantes do país. Isto, entre a segunda metade séc. XIX e a primeira do séc. XX. Tudo com a ajuda da ribeira Ajax, obviamente.20230410_121220.jpg20230410_121248.jpg20230410_121317.jpg20230410_121406.jpg

A par do seu aproveitamento hidráulico para produzir energia, as águas da Ajax também dão vida aos campos agrícolas da zona, missão que é cumprida por meio de uma levada antiga que nos ladeia durante um troço do percurso.

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Depois de passarmos pela Mata da Cerca e pelo seu anfiteatro, chegamos ao perímetro urbano, do qual rapidamente nos afastamos de novo, rumando ao Parque Ecológico, junto ao qual se situa o CERVAS (Centro de Ecologia, Recuperação, Vigilância e Animais Selvagens). Um parque criado em 1999 que pretende sensibilizar para a proteção das espécies de fauna e flora da zona. Permite ainda a observação de javalis, gamos, veados, bem como de outros mamíferos, aves e répteis. Estava encerrado para a realização de obras de requalificação, pelo que apenas conseguimos ver uns veados ao longe. 

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Uma paisagem desoladoramente bela.
A partir daqui ia ser subir, subir, subir. A pior parte do percurso. Ou a melhor, dependendo do ponto de vista. A primeira parte, ligeiramente ‘técnica’, por ser íngreme e pedregosa. Entramos numa zona dominada por formações graníticas de formas e dimensões diversas. Granito por todo o lado. E arbustos queimados, em resultado de um incêndio aparentemente recente. É doloroso observar como, ano após ano, incêndio após incêndio, a paisagem da serra se vai alterando. É verdade que mantém a sua imponência e beleza; é verdade que, a seu tempo se regenerará e reinventará numa miríade de novas paisagens; mas também é verdade que neste ‘processo’ se perdem tesouros de valor inestimável, quer ao nível da flora, quer da fauna.

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As vistas vão-se tornando cada vez mais amplas e incríveis. Já quase no topo, um miradouro convida a uma paragem. Uma paragem simplesmente para desfrutar. Olhar em volta, para a imensidão do que a nossa vista alcança, e para o leque de cores que nos rodeiam ou, simplesmente, fechar os olhos e sentir, ouvir, e cheirar a natureza. Um deleite para os sentidos e uma experiência difícil de descrever. 

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Chegamos novamente ao Curral do Negro e, no agradável e acolhedor bar do parque de campismo, tomamos uma bebida refrescante como que a adiar a hora de deixar aquele lugar tão apaziguador.

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