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Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

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05.03.24

PR4 FAL | Rota da Lagoa dos Patos | Alfundão, Ferreira do Alentejo


Emília Matoso Sousa
4 novembro 2022
 
O percurso | 14,9 km (fizemos 16,44), 170 m desnível acumulado, circular
Localidade | Alfundão, concelho de Ferreira do Alentejo, distrito de Beja
 
Hoje, vamos andar em torno de Alfundão, uma pequena aldeia no coração do Baixo Alentejo, no distrito de Beja. O ponto de partida, e de chegada, é junto à igreja. Como habitualmente, nestas aldeias a igreja situa-se, privilegiadamente, no largo principal. Dedicada a Nª Srª da Conceição, a documentação existente aponta para que tenha sido construída no século XVI, no exato local onde existiu um templo visigótico de origem medieval. Não visitámos, porque estava encerrada, algo que é recorrente um pouco por todo o país.

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Alfundão é terra de azeite e o seu lagar é o mais antigo do concelho, com a particularidade de ser o único que se localiza no interior de uma localidade. A alegada excelência do azeite ali produzido é garantida pela qualidade da matéria-prima utilizada. É que, ali, o precioso líquido é feito a partir de azeitonas galegas provenientes de olivais tradicionais da zona. Fica registado o sítio, pode ser que um dia lá passemos para comprovar esta fama.

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Saímos da aldeia por uma pequena ponte de origem romana sobre um ribeiro. Pensa-se que será o que resta de uma via romana proveniente do Torrão, seguindo para Beja. Não esqueçamos que os romanos cruzaram o país com as suas estradas. 
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Passamos por uma zona onde existem vários pavilhões agrícolas, seguida de um caminho que nos conduz a uma estrada em asfalto, que percorremos durante cerca de um quilómetro, ladeando pequenas propriedades rurais.
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Após passar a Herdade da Torre rumamos aos campos de cultivo. Nesta altura do ano, outono, as terras estão já a ser trabalhadas para, novamente, serem semeadas, deixando a nu a sua cor escura, tão típica deste Alentejo baixo e profundo... Algumas azinheiras pontuam a paisagem e, sempre que necessário, fornecem uma preciosa sombra (a tal sombra imortalizada numa famosa canção). Neste caso, a servir de resguardo a um rebanho de ovelhas. Apesar de ser novembro, está muito calor. Ai, as alterações climáticas...

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E por estes campos continuamos até cruzar novamente a estrada para, enfim, nos dirigirmos ao que ali nos leva, a Lagoa dos Patos. Oliveiras, muitas oliveiras, filas e filas de oliveiras carregadas de azeitonas. Aparentemente, mais do que a sua pequena estatura parece suportar. Agora, sim, estamos no meio de um denso olival. Parcelas de terreno disponíveis estão já a ser preparadas para novas plantações. Milhares de árvores minúsculas entaladas em tubos brancos, brevemente estarão a produzir azeitonas, ou amêndoas, em grande escala. Ao longe, o som contínuo de motores é sinal de que estão a ser pulverizadas com produtos químicos que as farão crescer quase à velocidade da luz. Ali, tudo é feito por meios mecânicos. Qualquer semelhança entre aquilo e um olival tradicional será, literalmente, pura coincidência. É a altura da 'apanha' e há alguma movimentação de tratores e camiões carregados de azeitonas.
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Em determinada altura, por distração e pelo desenho complexo daquelas plantações, não seguimos a direção indicada pela sinalética, pelo que, mais à frente, temos de atravessar pelo meio de um dos talhões de árvores. De repente, era como se estivéssemos dentro de um labirinto. Mais uma vez, não nos apareceu nenhum javali. Dizem-nos que há por ali muitos. E eis que chegamos à lagoa. A visão inicial é de espanto. Não esperávamos ver tamanha massa de água naquele recanto do Alentejo.
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Na verdade, apesar de lhe chamarem lagoa, trata-se de uma albufeira, de dimensão não muito grande, é certo, cuja água é usada para irrigar aqueles campos agrícolas. É também o sítio escolhido por muitas aves, algumas apenas para uma breve paragem no decurso dos seus movimentos migratórias, outras para nidificar. É considerada um dos melhores locais no Alentejo para observar várias espécies de patos e outras aves aquáticas como garças, colhereiros e flamingos. Ali, podem ver-se as maiores concentrações de patos de todo o Baixo Alentejo. Dizem. E nós acreditamos, apesar de não termos vislumbrado nenhum. Em todo o caso, é tida como um paraíso para os praticantes de birdwatching (observação de aves). Os não birdwatchers têm outros motivos para apreciar o local. Com as margens 'atapetadas' por uma vegetação verde, densa e relativamente alta, o sítio é verdadeiramente aprazível e relaxante, e convida a ficar por ali longos momentos. Foi o que fizemos.
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No regresso, sempre por entre olivais, passamos pelas instalações de uma unidade de produção agrícola onde é feita a descarga e a preparação das azeitonas.
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Estava na altura de regressar, continuando a percorrer olivais e amendoais, até atingir a estrada asfaltada que tínhamos percorrido no início. Mentalmente, agendamos um passeio por aqueles campos, na primavera, para apreciar o espetáculo das amendoerias em flor. Quem diria que tal viria a ser possível no Alentejo?
 

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Pese embora o meu desagrado em relação a estas culturas de intensivo, o trilho é muito bonito, sobretudo pela lagoa, que pode ser visitada sem necessidade de se fazer a caminhada. Por outro lado, tem uma vertente bastante didática, ao dar-nos a conhecer in loco o funcionamento dos processos utilizados neste tipo de agricultura, tão pouco amiga do ambiente. Uma coisa é passar na estrada, confortavelmente instaladados nas nossas viaturas, e apreciar os campos todos arranjados e a produzir os tão necessários alimentos, coisa diferente é ir para o terreno ver como a 'coisa' funciona. E, de facto, a visão não é particularmente 'romântica'... Ainda assim, o balanço foi positivo, pois a beleza tranquila do Alentejo sobrepõe-se a estas 'modernices', proporcionando-nos céus magníficos e horizontes infindáveis.

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