Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

12.05.23

PR3 SPS Rota da Cárcoda


Emília Matoso Sousa

Data: 4 de março 2023
O percurso
14,56 Km | Circular | 444 m desnível acumulado | Grau dificuldade: moderado
Pontos de interesse
Igreja Matriz Carvalhais; Capela Nossa Sra. do resgate; Castro da Cárcoda; Moinhos de Água do Pisão; Bioparque de Carvalhais; Prego no Sino
Localidade
Carvalhais | Freguesia do concelho de São Pedro do Sul, distrito de Viseu.

20230304_135756.jpg

É junto da Igreja Paroquial de Carvalhais que o trilho começa. Uma igreja imponente e envolvida por um interessante conjunto de edifícios. Há, no entanto, uma nota dissonante naquela igreja, que é a estranha desproporção entre a altura da torre e a da própria igreja. Não será uma torre um pouco baixa demais?

20230304_102944.jpgComo é habitual nestes locais, a saída conduz-nos imediatamente a terrenos rurais. Atravessamos os lugares de Reguengo e Faverrel e rumamos à Serra da Arada. É em Roçadas que encontramos o primeiro ponto de interesse. Trata-se de uma localidade com algum charme, onde uma quinta (Quinta de Roçadas) se destaca dos demais edifícios.

20230304_112514.jpg20230304_113009.jpg20230304_113919.jpg

É neste contexto que surge a capela de Nossa Sra. do Resgate, cuja envolvente reúne alguns pormenores peculiares. Desde logo, um cuidado jardim onde, além de flores, há algumas estatuetas e… poesia. Mas o que mais prendeu a minha atenção foi um painel de azulejos que relata, ao pormenor, a sucessão de herdeiros da quinta, desde o primeiro proprietário, até 1952, data da afixação do painel. Ficámos, então, a saber que a quinta pertenceu ao Senhor Padre Caetano António de Paiva Barros, o qual ali edificou uma pequena capela em 1865. A escrita do painel é uma delícia! São estas pequenas preciosidades que tornam estes percursos muito enriquecedores!

20230304_113143.jpg20230304_113204.jpg20230304_113420.jpg20230304_113609.jpg20230304_113737.jpg20230304_114701.jpg

Seguimos por caminho florestal e, à medida que vamos subindo, a paisagem vai-se modificando. As árvores vão sendo substituídas por vegetação mais rasteira e os afloramentos graníticos começam a proliferar, espicaçando a nossa fértil imaginação. No topo da subida, esperam-nos as vistas para a Serra da Arada, já com algumas manchas de amarelo e lilás.

20230304_121341.jpg20230304_121804.jpg20230304_122958.jpg

Um monte de pedras deixa de ser um monte de pedras no momento em que um único homem o contempla, nascendo dentro dele a imagem de uma catedral”, Antoine de Saint-Exupéry

Dirigimo-nos para o Castro da Cárcoda. Visualmente, não considero que um castro seja a oitava maravilha do mundo. Porém, sendo, porventura, a primeira forma estruturada de centro urbano organizado (com casas, arruamentos e equipamentos coletivos), no nosso território, um castro é um testemunho de inegável interesse histórico. Por motivos de defesa, eram fortificados e edificados em lugares muito altos… portanto, toca a trepar o monte!

20230304_123059.jpg20230304_123210.jpg20230304_123329.jpg20230304_123818.jpg

Pessoalmente, nunca tinha visto um castro tão bem ‘conservado’. Por isso, valeu a pena o esforço da subida, até porque, no limite, quem não apreciar as ‘pedras’ aprecia as vistas.

20230304_124426.jpg20230304_131139.jpg20230304_131226.jpg

O Castro da Cárcoda é um povoado fortificado com cerca de 10 hectares, tendo sido ali descobertos alicerces de 25 habitações, que remontam à Idade do Ferro (planta redonda) e ao período de ocupação romana (planta quadrangular). Pela dimensão do castro e quantidade do espólio ali encontrado, é de supor que a sua população fosse numerosa. Terá sido habitado entre os séculos VII a.C. e IV d.C.
Segue-se o Bioparque de Carvalhais, onde vamos poder apreciar o complexo de Moinhos do Pisão.

20230304_135745.jpg

O Parque Florestal do Pisão nasceu em 1958 no sopé da vertente sul da Serra da Arada. Foi criada uma área de viveiro onde se plantaram árvores representativas da floresta portuguesa, como o carvalho-alvarinho, o pinheiro-bravo, o castanheiro, mas também de outras regiões do mundo. O viveiro desenvolveu-se, transformou-se em floresta, e hoje é um bioparque que, tirando partido de uma envolvente paisagística de beleza ímpar, alberga um conjunto de atividades que privilegiam o contacto com a natureza (parque aquático, piscinas, bioslide, escalada, paintball...). Tem também um conjunto de estruturas que permitem que ali se pernoite (bungalows, Casa da Montanha, campismo).

20230304_134248.jpg20230304_140214.jpg20230304_143006.jpg20230304_143052.jpg

Os moinhos de água… do Pisão
Se há elementos que embelezam a paisagem natural ou, pelo menos, não a ‘corrompem’, são os moinhos. Situados nas margens de rios ou ribeiras, grande parte dos moinhos de água, cuja época áurea foi entre os séculos XVIII e XIX, chegaram aos nossos dias em ruínas ou perto disso. O que é pena, pois que eles desempenharam um papel relevantíssimo na economia de subsistência que então se praticava.
Os moinhos de rodízio do Pisão, situados na margem da ribeira de Contença, são 13, estando 6 recuperados e operacionais. Por estarem dispostos em escada ao longo da encosta, estão interligados por um engenhoso sistema de levadas em aqueduto, em que a água tanto corre por levadas de granito, como por outras escavadas em compridos troncos de pinheiro-bravo, suportadas por pilares de pedras.

20230304_135810.jpg20230304_140204.jpg20230304_140214.jpgO aspeto é o de um mecanismo aparentemente rudimentar. Contudo, há ali muita arte e engenho. Além disso, é um exemplo perfeito de como na natureza nada se perde e tudo se pode transformar. É que a água saída do rodízio de um moinho é conduzida para outro e pode ser depois devolvida à ribeira, ou pode ser utilizada para regar os campos de cereais. Os cereais que serão moídos no moinho e com cuja farinha se fará o pão. Um ciclo perfeito. Uma lição de sustentabilidade, algo de que tanto se fala nos tempos atuais ...
As margens da ribeira são o habitat perfeito para diversas espécies de fauna e flora e, ao longo da sua linha de água, vão-se formando pequenas lagoas de água cristalina, onde se podem tomar umas belas banhocas. Foi o que fez um casal de jovens estrangeiros, os únicos com quem nos cruzámos durante a caminhada, não resistindo ao nosso afamado Sol de inverno.

20230304_140525.jpg20230304_140543.jpgDepois desta pausa refrescante, retomámos a marcha rumo a Pisão, uma aldeia com alguma graça e movimento de pessoas locais.

20230304_150009.jpg20230304_150240.jpg20230304_150323.jpg

Antes do regresso ao ponto de partida, há ainda um desvio ao Prego do Sino, um recanto verdadeiramente maravilhoso, onde a ribeira de Contença mostra todo o seu esplendor e disputa o protagonismo com um fantástico carvalhal, disposto em vários patamares. Tudo isto, combinado com o som e a visão das várias miniquedas de água da ribeira, nos faz acreditar que, afinal, vivemos no melhor dos planetas… enfim, seria bom que houvesse muitos locais com este.

20230304_151602.jpg20230304_151638.jpg20230304_152255.jpg

20230304_152110.jpg20230304_153629.jpg20230304_153642.jpg

Mais uma caminhada que chegou ao fim com nota muito positiva. Nem todos os percursos têm o mesmo nível de beleza, é verdade, mas de todos trazemos bons e interessantes ensinamentos. Acima de tudo, trazemos sempre uma vontade redobrada de conhecer aquilo que o nosso país ainda tem de exclusivo para nos mostrar.