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Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

27.03.23

PR3 PCT: Cenários do Passado (Esmolfe)


Emília Matoso Sousa

Data: 14 de abril 2022

O  percurso
9 Km   |   Circular   |   165 m desnível acumulado   |   Grau dificuldade: fácil
Pontos de interesse
Anta do Penedo do Com, Necrópole Medieval, Maçã Bravo de Esmolfe
Localidade
Esmolfe | Freguesia do município de Penalva do Castelo, distrito de Viseu.

E se ao percorrer as ruas de uma aldeia, encontrar uma escultura de granito em forma de maçã… isso quer dizer que está em Esmolfe. 

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“O vinho do Dão, o queijo da Serra e a maçã Bravo de Esmolfe constituem a ‘trilogia de excelência’ dos produtos endógenos [de Penalva do Castelo]”. A afirmação é feita no site da Câmara Municipal deste município e não sou eu que os vou contrariar, antes pelo contrário, até porque, qualquer um deles é bom, quer para os nossos apetites gastronómicos, quer para a economia local. 

20220414_142926.jpgO trilho de hoje desenvolve-se em Esmolfe, nada menos do que o berço das famosas maçãs Bravo de Esmolfe DOP (Denominação de Origem Protegida), assim chamadas, está mesmo a ver-se porquê. Mas nem tudo são rosas na ‘vida’ desta variedade de fruta, também considerada um ex-libris ao nível nacional. Apesar de muito apreciada e de ser dona de um aroma, aspeto e sabor inconfundíveis, a verdade é que há alguma confusão acerca do seu verdadeiro nome, vítima de deturpadelas, sendo, por exemplo, muitas vezes chamada de ‘bravo mofo’. Por ser tão especial e importante para a região, tem até direito a uma feira anual, que se realiza no segundo domingo de outubro, em Esmolfe, pois claro.

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Geologia, arqueologia e paisagem
O trilho de hoje iria proporcionar-nos uma viagem a um passado muito longínquo, como provam algumas relíquias que chegaram aos nossos dias. Um aspeto que nos tem surpreendido muito, ao percorrer estes trilhos, é o legado arqueológico escondido nas nossas florestas, ou mesmo em campos de cultivo. Através do seu estudo foi possível determinar como viviam os nossos antepassados nas várias fases de ocupação destes territórios e, no caso da zona de Esmolfe, há vários testemunhos da presença humana que remontam à pré-história.  
 
O percurso tem início na Igreja Matriz de Esmolfe, ou de Nossa Senhora da Conceição, datada do século XVIII. Perto deste local, era suposto que estivessemos atentos ao  "magnífico exemplar de relógio de sol, esculpido em granito”, para nos “deleitarmos a ver as horas, através de uma técnica ancestral”. Perante tão promissora descrição, fizemos questão de o encontrar, tarefa que se revelou difícil, pois que o mesmo se encontrava quase escondido pela fachada de uma casa entretanto reconstruída. E era um ‘pequeno’ relógio. Não valeu o esforço…

20220414_142813.jpg20220414_171705.jpgSaímos do miolo urbano e, imediatamente, entramos em terreno agrícola e florestal. Passamos por algumas vinhas e caminhos murados e chegamos aos sítios da Eirinha e de S. Martinho, onde, em terreno privado, mas de acesso livre, podemos apreciar uma alminha que tem por base uma ara romana, uma necrópole medieval romana, escavada na rocha e constituída por sepulturas antropomórficas, e também uma lagareta medieval (rudimentar lagar de vinho esculpido em laje de pedra). 20220414_144558.jpg20220414_144628.jpgHá, de facto, muitas vinhas por aqui, ‘temperadas’ pelos rios Dão e Côja, entre as margens dos quais Esmolfe se situa. Dois rios, cujos benefícios não serão, também, alheios à excelência das já referidas maçãs locais. Passamos pelos respetivos pomares, é verdade, mas as árvores ainda estão despidas. 

20220414_150208.jpg20220414_152113.jpg20220414_153202.jpgNas zonas de floresta, as flores brancas das giestas já tomaram conta da paisagem,  oferecendo-nos um verdadeiro espetáculo de cor branca. Alguns penedos pontuam o caminho, formando contrastes engraçados com a vegetação e com o branco e azul do céu que, hoje, está particularmente ‘fotogénico’. 

20220414_154355.jpg20220414_154515.jpg20220414_155704.jpg20220414_160124.jpgE chegamos a um 'momento' pré-histórico: a Anta do Penedo do Com, provavelmente o ex-libris do património arqueológico do concelho de Penalva do Castelo, que é onde nos encontramos. Trata-se de um monumento funerário coletivo de câmara coberta por uma laje de cerca de oito toneladas, sendo o corredor também coberto. Está bem recuperada e conservada, o que é um sinal bastante positivo.

20220414_160454.jpg20220414_160642.jpgDe acordo com os estudos arqueológicos ali desenvolvidos, foi possível situar a sua utilização no quarto milénio a.C., tendo sido reutilizada no período calcolítico (cerca de três mil a.C.). Num raio de sensivelmente 500 metros, existem diversos abrigos naturais utilizados também nesse período. 

20220414_163039.jpg20220414_163549.jpg20220414_165732.jpgSeguimos viagem e chegamos a Esmolfe, onde aproveitamos para fazer um reconhecimento da localidade. Estava terminado mais um agradável passeio pela História (e Pré-história) patrocinado pelas belíssimas paisagens beirãs e adocicado pelos aromas (ainda que imaginários) das maçãs Bravo. De Esmolfe. Não esquecer!