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Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

09.02.23

PR2 MGL: Trilho das Água Milenares


Emília Matoso Sousa
O  percurso
7 Km   |   Circular   |   251 m desnível acumulado   |   Grau dificuldade fácil
Pontos de interesse
Termas e Praia Fluvial; igrejas; vinhas
Localidade
Alcafache | Freguesia do concelho de Mangualde de que fazem parte os lugares: Casal Mendo, Casal Sandinho, Aldeia de Carvalho, Tibaldinho, Mosteirinho e Banho (termas).
 
O percurso tem início nas Termas de Alcafache, junto à Capela da Nossa Sra de Fátima. Daí, ora por caminho florestal, ora por campos cultivados, ora ladeando grandes vinhas, vamos atravessando as várias povoações da freguesia.
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São várias as igrejas e capelas que se podem visitar, bem como outros pormenores dignos de atenção, como alminhas, picotas (engenho antigo e de grande simplicidade que servia para retirar água dos poços) e pequenos trajetos de caminhos romanos. Este é um percurso em que o edificado predomina, mas que proporciona a interessante experiência de transitarmos de povoação em povoação, cada uma com o seu pequeno núcleo de interesse. 
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20220514_105030.jpg20220514_114044.jpg20220514_120158.jpg20220514_112704.jpg20220514_121427.jpg20220514_124057.jpgTermas de Alcafache - Águas que se perdem no tempo
O ponto alto deste trilho, e aquilo que dá notoriedade à terra, é, sem dúvida, o seu complexo termal de águas milenares, as quais dão o nome ao trilho. Milenares, porque, supõe-se, contarão já com alguns milhares de anos. Também as termas já estarão por ali há muito tempo, sendo conhecidas as ruínas de uma albergaria construída no século XV para acolher "pobres necessitados de tratamento". As águas, captadas a 75 e a 150 metros de profundidade, são muito puras e ricas, e das mais quentes em Portugal (51º). E são mesmo muito quentes! Tive oportunidade de lhes ‘tirar a temperatura’ numa fonte no exterior dos balneários e garanto que queimam mesmo. A sua natureza sulfurosa faz com que sejam procuradas para o tratamento de reumatismo e outras doenças músculo-esqueléticas, mas também para situações do foro respiratório e da pele.

 

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As termas situam-se numa povoação com o curioso nome de Banho. Estamos no território do rio Dão que, ali, separa os concelhos de Mangualde e Viseu, colocando neste último os balneários e deixando a maior parte das parcas e modestas instalações hoteleiras para o primeiro. Assim, ninguém se zanga. Aliás, ninguém dá por isso, pois a ligação de uma margem à outra faz-se por uma bonita ponte que confere um charme acrescido ao local. O cenário fica completo com uma aprazível zona de praia que se estende na margem do rio, prometendo tardes de verão muito bem passadas.

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Bordados de Tibaldinho: Uma herança secular
Alcafache também tem uma palavra a dizer no que à arte de bordar diz respeito. Afinal, é em Tibaldinho, uma das povoações da freguesia, o berço dos inconfundíveis e maravilhosos Bordados de Tibaldinho. A sua origem perde-se no tempo, mas supõe-se que os exemplares mais antigos terão entre 150 a 200 anos. Uma arte que era passada de geração em geração e que chegou aos nossos dias, fruto de muitas alterações culturais, sociais e económicas, com um número muito reduzido de bordadeiras. Felizmente, e por se tratar de um produto 'estrela' do concelho de Mangualde, está a ser recuperado e valorizado.  
 
Um 11 de setembro de má memória
É provável que Alcafache se tenha tornado também conhecida pelos piores motivos, tendo sido palco do mais grave acidente ferroviário ocorrido em Portugal. Corria o ano de 1985. O acidente aconteceu no dia 11 de setembro, junto ao apeadeiro de Moimenta-Alcafache, na freguesia de Moimenta de Maceira Dão, no concelho de Mangualde, envolvendo o Sud-Express com destino a Paris e um comboio regional que seguia para Coimbra. Só como curiosidade, em termos da cobertura mediática de um acidente, há um antes e um depois de Alcafache. Enquanto o país assistia, em choque, à brutalidade dos grafismos das imagens do local do acidente, nascia uma nova forma de fazer jornalismo e fotojornalismo. Afinal, a imprensa livre em Portugal era pouco mais do que uma criança e o peso de várias décadas a ‘trabalhar’ a informação não deixou de se sentir de um dia para o outro.
 
Deixando para trás as memórias menos boas, o que trouxemos deste passeio, além de tudo o que vimos e aprendemos, foi uma enorme vontade de experimentar os prometidos benefícios das águas milenares. As das termas! Não confundir com 'águas' de outros teores, que também as há por ali em abundância e de altíssimo gabarito, ou não estivéssemos em plena região demarcada do vinho do Dão...