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Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

24.01.25

Etapa 9 / 15 - De Ramallosa (Praia America) a Vigo | 23 Km


Emília Matoso Sousa
20 de maio 2024
 
O destino de hoje é Vigo, uma cidade vibrante e claramente influenciada pela ria com o mesmo nome, no coração da qual se encontra. É a cidade mais povoada e o maior centro urbano da Galiza, tem o maior porto pesqueiro da Europa e dá cartas na indústria da construção naval. Tem um centro histórico digno de ser visitado, uma vida urbana à altura das melhores cidades espanholas, praias de se lhes tirar o chapéu, uma gastronomia de comer e chorar por mais... e, se tudo isto não for suficiente, tem as idílicas Cíes à distância de uma curta deslocação de barco. 
 

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Iniciamos, pois, a nossa marcha, que é para isso que ali estamos. E é sobre um agradável passeio marítimo que caminhamos. Primeiro, ladeando a Praia America que, ficamos a saber, se chamou de Lourido até 1927, altura em que um empresário hoteleiro, querendo converter o local num centro de veraneio semelhante à Costa Azul Francesa, a rebatizou. Não sei se conseguiu o seu objetivo, penso que não, mas que a praia, de extenso areal, e a sua envolvente são muito bonitas, lá isso são, fazendo da zona uma das mais procuradas pelos turistas no verão. Passamos pela foz do rio Miñor e, mais uma vez, temos oportunidade de apreciar a riqueza deste ecossistema de grande valor, protegido pela Red Natura 2000.

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Chegamos a Panxón, também com uma belíssima praia, e fazemos um curto desvio para visitar o Templo Votivo, igreja dedicada a S. João Baptista, um edifício monumental, da autoria do arquiteto galego António Palácios Ramilo, que assinou obras como a Virxe da Roca, em Baiona, pela qual passáramos na véspera. Estava encerrado e apenas pudemos apreciar o seu exterior, cuja dimensão impressiona mais do que a sua estética relativamente moderna (década de 1930).
 

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Retomamos a orla marítima, dominada pela deslumbrante visão das Ilhas Cíes, e vamos passando por uma sucessão de praias, com destaque para a de Patos, todas de grande beleza paisagística. Sabe bem fazer parte daquele cenário. Digna de nota é também a pequena e pitoresca praia de Portiño, que atravessamos sobre a areia, apreciando de perto a sua água cristalina. 

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Fazemos, agora, um pequeno desvio até à estrada e, pouco depois, voltamos, novamente, às praias. Lindas, de areia muito branca e com vista para as Cíes. Um luxo! Em fundo, uma imensa torre de apartamentos, um pouco a despropósito, denuncia que nos aproximamos da Illa de Toralla, uma pequena ilha situada a 400 metros da costa viguense, privada, descontroladamente urbanizada, e acessível por uma ponte. Chegamos ao bairro Oia, perto da praia do Vao, e deparamo-nos com a Vila Romana de Toralla, que apenas espreitamos através das grades que a envolvem. 

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É verdadeiramente bonita aquela zona guarnecida de praias que mais parecem postais ilustrados. E assim chegamos à maior e mais frequentada praia de Vigo, a de Samil, que se estende por um quilómetro e meio, contornada por um passeio marítimo ao longo do qual é disponibilizado um incrível complexo recreativo com várias piscinas de livre acesso, campos de jogos, zonas verdes, etc. Mas as praias não terminam ali, até Vigo ainda passaremos por mais. 
 

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Depois de passar por debaixo de uma ponte que conduz a uma enorme estrutura de entreposto portuário, chegamos a Bouzas, hoje, um bairro de Vigo, mas povoação autónoma até 1904. Uma zona tipicamente marítima, 'com ares de antigamente', fervilhante de atividade, com esplanadas a prometer as tapas mais tradicionais... e um passeio marítimo a pedir para ser percorrido. Entramos na igreja de San Miguel, um edifício cuja construção original data de 1542 e que tem no seu interior uma interessante e peculiar imagem dedicada a São Pedro, o Pescador.

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Segue-se um percurso, já urbano, que tanto poderá ser considerado interessante, como o seu contrário, dependendo dos gostos de cada um. Uma imensa extensão onde estão alojados os estaleiros de Vigo, sendo a indústria naval a imagem de marca da cidade. Gruas que se elevam no céu, sons de metal, enormes cascos de barcos em construção, suspensos em poderosas estruturas, carros de transporte de materiais a dificultar a passagem de traseuntes... Assim é a Vigo naval, a verdadeira Vigo, para os mais puristas, a essência de uma cidade que deve ao mar aquilo em que se transformou, aquilo que fez dela uma potência naval e um dos portos mais importantes da Europa e do mundo. Olhando, agora, para trás, tendo a reconciliar-me com aquela visão menos arrumada e 'fotogénica' da cidade e a aceitar a dos mais puristas. Aquele é, de facto o ponto nevrálgico de Vigo, o seu miolo, o seu ADN. Devemos, efetivamente, saber apreciar e dar o devido valor a uma cidade que soube preservar e reinventar-se na sua capacidade de se manter na vanguarda na arte de construir e reparar embarcações. Além disso, e esta é uma das virtudes do Caminho, há que saber apreciar as cidades em todas as suas vertentes, para lá dos seus pontos de interesse turístico. Como já referi várias vezes, o Caminho não é feito apenas de paisagens bonitas. É feito de paisagens verdadeiras que, ora nos deslumbram, ora nos remetem para recantos de introspeção em que o mais importante é a autenticidade e a essência daquilo que nos rodeia. No entanto, naquela altura, e perante a confusão de todo aquele percurso que parecia não ter fim, tudo o que queríamos era chegar ao alojamento e iniciar o processo de recuperação de energias. 
 

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Não foi fácil chegar ao alojamento! Vigo é uma cidade grande e as setas do Caminho não levam, necessariamente ao destino dos diferentes peregrinos. Íamos ficar numa zona alta da cidade com ruas muito íngremes e pouco amigas de quem carrega uma mochila de quase dez quilos às costas. Felizmente, existem ascensores para facilitar a vida a quem se desloca a pé; infelizmente, o que nos servia estava avariado... Nada é fácil nesta vida! É o que sempre pensamos nestas ocasiões. 

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Um dia em Vigo...
Em Vigo, fizemos um dia de paragem, para descansar e também para passear um pouco. E há tanto para ver. Das belíssimas praias e da proximidade com as Cíes pouco mais há a dizer. Foquemo-nos na cidade e no seu legado patrimonial e cultural. Vale a pena penetrar no Casco Vello, o centro histórico, e percorrer o emaranhado de bonitas ruas estreitas para terminar a 'tapear' numa das muitas esplanadas da Praça da Constituição; sentir o pulsar da Praça Porta do Sol, o Km 0 de Vigo, que une o centro histórico ao Ensanche (a cidade moderna do século XIX), e onde se encontra a escultura El Sireno, um dos símbolos da cidade, representação da Vigo moderna e da união do homem com o mar; subir ao Monte Castro e usufruir das melhores vistas panorâmicas; passear na zona marítima e apreciar o sem número de esculturas, assinadas por escultores reconhecidos e homenageando momentos chave da história da cidade.

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É claro que muito mais haveria a dizer, mas não será neste espaço. Já agora, ir ao Mercado da Pedra petiscar e provar as ostras da ria é quase obrigatório. Não tanto pela excelência dos restaurantes, hoje, demasiado orientados para turitas, mas pela experiência em si. Mas que os sabores marítimos de Vigo são imperdíveis, lá isso são! Obrigatório é, também, o famoso pulpo à galega, saboreado na esplanada de uma das pulperias existentes naquelas praças sempre tão pitorescas.

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