PR8 Rota da Laranja | Valadares (São Pedro do Sul)







A cascata é muito bonita e fica localizada num recanto idílico, despenhando-se sobre o espelho da Albufeira de Ribeiradio e rodeada de uma magnífica mancha de vegetação. Segundo a nossa 'guia', a queda já foi mais espetacular e mais alta. Mas isso foi antes da albufeira. Ainda assim, continua altaneira e valeu o esforço do desvio.
Regressámos até à bifurcação, tomando agora a direção do rio Almoinhas, afluente do Vouga, onde, segundo placa informativa, se pratica canyoning ou, em português, canionismo. Uma modalidade que consiste na descida de cursos de água, geralmente em áreas montanhosas, onde ocorrem cascatas e canhões (canyons). É uma modalidade difícil, pela quantidade, variedade e complexidade de obstáculos a ultrapassar e que exigem a combinação de espeleologia e escalada, bem como a utilização de técnicas e materiais específicos. A contrapartida é a descoberta e o acesso a locais fantásticos e a recantos escondidos, de beleza única. Um desporto claramente adequado aos aventureiros que não passam sem uma boa overdose de adrenalina. A nós, menos dados a desportos radicais, resta-nos apreciar as belezas, porventura menos recônditas, mas, ainda assim, surpreendentes. É o caso dos cenários proporcionados pelo rio Almoinhas na zona do Tronco. São de cortar a respiração! O preço a pagar (ah, pois, nada é de borla nesta vida!) é ter de se atravessar as poldras - as Poldras do Tronco - que mais parecem um amontoado caótico de pedregulhos, uns meio submersos, outros cobertos de musgo escorregadio. Primeira reação: "Não vamos conseguir atravessar isto!". Segunda reação: "Voltar para trás, nunca!". Com mil cuidados, e com menos, ou mais, recurso aos quatro apoios, lá atravessámos o rio. Mais uma vitória para o nosso palmarés. E uma verdadeira aventura!




Antes ainda de recuperar o fôlego, eis que temos pela frente uma subida bem acentuada por degraus escavados na rocha. Mais uma vez, a consolação é-nos oferecida sob a forma de paisagens soberbas. No fim da subida, chegamos ao Tronco. Por estrada, seguimos até ao Covelo, localidade com uma dimensão razoável e atravessada pelo rio Almoinhas, onde vamos fazer mais um desvio para ver o poço negro.


Cascatas, poços negros, lagoas, águas cristalinas... os rios de montanha reservam-nos, de facto, as melhores surpresas. Após uma refrescante pausa junto ao poço, onde apetece mergulhar, dirigimo-nos ao café da localidade para reabastecimento de líquidos. Um estabelecimento simples, mas soberbamente localizado, com vistas magníficas e uma esplanada/terraço que mais parece um miradouro. Cinco estrelas!







Dirigimo-nos agora, em descida acentuada, para a levada da Paradela. Duas habitantes locais aconselham-nos a não ir, pois não acreditam que consigamos fazer o caminho. Agradecemos a preocupação, mas não podemos voltar atrás. O caminho é, realmente, difícil, apesar de curto. Íngreme, pedregoso, técnico, escorregadio. A exigir concentração máxima.
A chegada à levada apresenta uma bifurcação. O desvio para a esquerda leva-nos às lagoas do rio Varoso e ao Poço do Mourão. A vegetação ripícola tapa um pouco a vista, mas dá para perceber que é maravilhosa. O som das pequenas cascatas, o chilrear das aves e as múltiplas tonalidades de verde embalam-nos e fazem-nos viajar para outras dimensões. Seria também este o acesso ao mosteiro, que gostaríamos de ter visitado. Porém, por ser propriedade privada, a passagem está interrompida.


Voltamos para trás e seguimos pela direita, na bifurcação, ladeando sempre a levada, caminhando sobre um passadiço de cimento.


Água leva o regadio...
A Levada de Paradela é um canal através do qual é conduzida a água do rio Varoso até ao regadio de Paradela (para a rega de culturas agrícolas, designadamente o laranjal), situado a três quilómetros de distância. É, sem dúvida, uma obra notável que, com um passadiço pedestre a ladeá-la e envolta por uma densa mancha de vegetação, faz lembrar as famosas levadas madeirenses. Até o bosque ali existente, constituído por sobreiros, medronheiros, aveleiras, folhados e loureiros, entre outras espécies, se assemelha à floresta Laurissilva da nossa pérola do Atlântico. Um troço de rara beleza que dificilmente esqueceremos. Esta é uma zona sombria, muito húmida e repleta de vida. O verde vibrante das folhas enormes das árvores, os arbustos de tamanho XL, os fetos gigantes, as lianas (andará por ali algum Tarzan?)... Tudo parece irreal!





No final do passadiço, avançamos por um estradão até Paradela, povoação que atravessamos. E é por caminho ora florestal, ora rural que chegamos a Valadares.
Os pontos altos do 'passeio' foram, sem dúvida, a levada de Paradela e o rio Almoinhas com as suas envolventes. A nota menos positiva fica reservada para a mancha excessiva de eucaliptal. Entretanto, e porque os estômagos já reclamavam, era tempo de procurar um local para petiscar. O único café de Valadares estava fechado, pelo que foi já na zona de Oliveira de Frades, em Casal de Sejães, no restaurante Luciana, que fizemos um lanche ajantarado, tendo em conta o adiantado da hora. Um restaurante afamado pelo bacalhau na brasa, especialidade da d. Luciana, com quem combinámos uma futura ida para a devida prova.

