20 abril 2023
O percurso | 16,4 Km | 251 m desníveis acumulados
Localidade | Bodiosa, freguesia do concelho e distrito de Viseu
O trilho de hoje decorre na Bodiosa, freguesia dona de alguns caminhos bem bonitos. É um trilho fácil de percorrer, apesar dos seus 16 quilómetros, sem descidas ou subidas de pendente dignas de nota.
Partimos da igreja matriz (as usual) e, poucos metros depois, passamos em frente à casa paroquial, uma casa antiga de traça bastante interessante, que está a ser alvo de obras de reabilitação, por sinal de forma muito bem conseguida. No exterior da casa é possível ver alguns elementos construtivos da antiga igreja, os quais acrescentam ao espaço algum charme.
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Avançamos um pouco e chegamos à Ecopista do Vouga, que percorremos durante um breve trajeto. A ecopista foi construída sobre a parte desativada do antigo ramal do Vouga e é uma obra digna de aplauso, ao disponibilizar à população em geral mais de 100 quilómetros paisagisticamente privilegiados para a prática de atividades desportivas ou de lazer. Esta ecopista entronca com a Ecopista do Dão, ligando Sernada do Vouga a Santa Comba Dão, passando pelos concelhos de Águeda, Albergaria-a-Velha, Sever do Vouga, Oliveira de Frades, Vouzela, S. Pedro do Sul, Viseu e Tondela, e podendo ser percorrida por qualquer meio de mobilidade suave (bicicleta, patins, cadeira de rodas ou a pé), num total de cerca de 120 quilómetros. Já pedalámos os 50 Km da do Dão (que liga Viseu a Santa Comba Dão) e vale muito a pena.
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Pouco depois, saímos da pista e seguimos por área rural até chegarmos a um caminho murado entre campos cultivados. Passamos pela fonte da Moita, onde os animais matavam a sua sede, e voltamos a entrar na ecopista que nos vai levar até à capela do Espírito Santo.
Entramos em Bodiosa a Nova, onde podemos apreciar uma típica e antiga eira local com os seus espigueiros. Daqui, seguimos para Silgueiros. Até entrar na aldeia, temos a maior subidinha do dia, mas nada de assustador. Depois da capela de Sta Marinha, voltamos a entrar em campos e área natural.
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O destaque do caminho vai para o trajeto que agora iremos fazer entre muros. Um caminho extremamente estreito ladeado por uns muretes rústicos e antigos, como ainda não tínhamos visto nestas andanças. Muito pitoresco e muito bonito!![20230420_101117.jpg]()
Voltamos a entrar em Silgueiros e atravessamos por entre o seu casario. Um saco com pão pendurado numa porta, algo só possível nestas terras pequenas, indicia que ainda é cedo. Começámos a caminhada cedíssimo para 'fugir' ao calor de uma primavera que mais parece verão... Chegamos às eiras comunitárias da aldeia. Um conjunto bastante pictórico e a ilustrar bem como era, no passado, o ritual em torno dos cereais. Malhar, peneirar, separar os grãos, e armazenar. Tudo em conjunto e tudo no mesmo local.
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Segue-se agora um trajeto longo sem grande interesse, até Pereiras, que atravessamos, e seguimos viagem até à anta do Fojo. Um dólmen, ou anta, fragmentado e parcialmente completo, que é Imóvel de Interesse Público e que data do Neolítico Final, IV a III milénio a.C.. Situa-se num plano superior em relação ao caminho e está quase enterrado, pelo que passa quase despercebido.
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Seguimos caminho entre pinhal e carvalhal até Póvoa de Bodiosa. Espera-nos a capela da Sra da Saúde e a sua monumental escadaria, de cujo topo se pode observar a paisagem envolvente de Bodiosa. A monumentalidade da escadaria faria supor uma capela com alguma imponência e não uma pequena e simples capela sem qualquer beleza. Uma placa existente no local informa que a obra foi "executada pelo povo" em 1994. Já o calcetamento do largo foi "efectuado pela Comissão de Compadres" em 2007. É prática relativamente comum nos meios mais pequenos ser a comunidade local a assumir a realização de determinados melhoramentos. Não me parece um mau princípio!
Descemos a escadaria e, novamente por caminhos entre campos, dirigimo-nos ao bonito moinho de Queirela, de onde avançamos entre campos de cultivo, estes um pouco elameados e atravessamos a ponte de Queirela, rústica e construída em granito tosco.
Voltamos à ecopista e por aí seguimos até alcançar a antiga estação de Bodiosa, totalmente recuperada e atualmente sede da junta de freguesia. O percurso termina poucos metros depois.
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A arte de trabalhar o estanho.
O encanto da Bodiosa não fica, no entanto, pelos seus caminhos. É que os seus estanhos artísticos são o primeiro produto artesanal do concelho de Viseu a receber certificação. E qual a razão desta produção artesanal na Bodiosa? A existência de minas na freguesia, onde se extraía o estranho, e também a presença da Sociedade Mineira do Paiva, onde se fazia a separação e tratamento desse minério. Ora, com a decadência da exploração mineira surgiu uma especialidade de dimensão artística, ou seja, os profissionais que tinham competências na manipulação de estanho começaram a criar peças artísticas e decorativas, algo que se mantém até hoje.
Como nota final, saliento que a pouca espetacularidade paisagística deste trilho é compensada pela riqueza e variedade da paisagem humana, seja nas aldeias que atravessámos, nos campos de cultivo, ou nas construções de um tempo passado que, sob a capa de simples e rudimentares, são a expressão mais evidente da vitória das competências do homem sobre as forças da natureza.