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Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

13.06.23

PR17 VIS Povolide e seus caminhos com História


Emília Matoso Sousa
11 de abril 2023
 
O percurso | 9,5 Km (fizemos 11) | 363 m ganho elevação 
Localidade | Povolide: Freguesia do distrito de Viseu.

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 Enquanto nos preparamos fisicamente para a nossa próxima 'grande' aventura a pé, desta vez por terras escocesas, aproveitamos todas as oportunidades para fazer quilómetros. Não apenas do ponto de vista 'contabilístico', pois se há coisa que gostamos, mesmo, de fazer é 'desbravar' os caminhos deste nosso País das Maravilhas. E se há uma zona boa a valer para nos preparar para todo o terreno, essa zona é, certamente, a Beira Alta, com o seu 'sobe e desce', tantas vezes diabólico. Depois do Vale da Cadela e da Rota dos Galhardos, ambos na Serra da Estrela, decidimos dar umas tréguas aos nossos massacrados músculos, fazendo um ou dois trilhos mais suaves. Fomos à descoberta de Viseu que, através de um conjunto de pequenas rotas, nos dá a conhecer alguns dos seus 'arrabaldes'. Aldeias e pequenas localidades predominantemente rurais, diga-se de passagem, mas com muitos recantos interessantes para mostrar. Começámos por Povolide. Uma freguesia que até 1855 foi vila e sede de concelho. As várias casas agrícolas senhoriais que, apesar de muito degradadas, ainda se mantêm de pé neste território, deram, nos seus tempos áureos, fortes contributos para o desenvolvimento local. Hoje, pode já não ser vila, mas abrange oito aldeias - Cabril, Cadimas, Nespereira, Nesprido, Povoação, Vila Corça, Vilar de Baixo e Vilar da Ordem - todas com fortes tradições rurais e com muitas histórias para contar.

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 O início dos trilhos é, quase invariavelmente, junto à igreja matriz. Nem poderia ser de outra forma, pois é a igreja que assinala o 'centro' das aldeias. Terá, aliás, sido em torno das igrejas que, no início da vida (destas localidades, bem entendido), os núcleos habitacionais se desenvolveram. Uma igreja bastante imponente, algo que também é habitual por estas bandas. Avançamos, primeiro pela estrada e,  mais à frente, por caminhos florestais. É sempre agradável passear sob a sombra de carvalhos, geralmente, frondosos. O carvalho, uma árvore belíssima e importantíssima para a biodiversidade e que representa a base da floresta nativa portuguesa. Há muitas espécies de carvalhos, ou quercus, se quisermos usar o seu nome científico, mas o que talvez não seja do conhecimento comum é que o sobreiro e a azinheira, tão típicos das nossas terras do sul, fazem também parte desta numerosa família.   

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 Em Vilar da Ordem (os nomes destas aldeias deste Portugal menos conhecido são muito peculiares) podemos ver alguns exemplos arquitetónicos de construção típica rural, ainda que em ruínas. Aí encontramos também a notável Casa Rui, cujo estado de conservação é bastante razoável.

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Voltamos aos campos e passamos por uma zona de penedos onde no passado se extraía pedra. Continuamos por caminhos rurais, até que encontramos a Casa Francisco Diogo Lopes Júnior, mais um exemplar de casa senhorial, ou melhor, um complexo de casas, junto às quais o dono da propriedade, em 1831, mandou construir um enorme e bonito chafariz - chafariz do Eiró. Aproveitámos para reencher os cantis e provar (e comprovar) a qualidade da água.

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Segue-se a Quinta do Paço que, em tempos, deverá ter sido magnífica, mas que hoje, está votada ao mais degradado abandono. É pena, pois trata-se de um edificado com um enorme potencial. 

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 Vamos agora para Outeiro de Povolide, supostamente, pelo mesmo caminho que os condenados à forca percorriam. Que horror! Não é agradável pensar que no nosso país já houve práticas tão incivilizadas. Tirando este 'pormenor', a localidade é bastante interessante. Daqui, por um caminho completamente tomado por vegetação, chegamos a uma levada, no fim da qual atravessamos umas poldras.

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Chegamos a uma estrada asfaltada para, logo de seguida, entrarmos num estradão de terra, passando pela secular fonte do Além, infelizmente pouco preservada, e seguimos, entre floresta e campos de cultivo, até à aldeia de Nespereira. Caminhamos um pouco pelas ruas da localidade e entramos na última parte do percurso, feito, em grande parte, pelo meio de vinhas, o que o torna especial. É comum passarmos junto às vinhas, não por dentro das vinhas. Pouco depois, chegamos à igreja de onde partiramos.

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Um percurso simples, sem paisagens de recortar a respiração, mas a levar-nos por um contínuo de aldeias beirãs com o seu 'quê' de encantador e revelador de um Portugal rural que, apesar de situado nas franjas de Viseu, preserva caraterísticas da mais genuína ruralidade.