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Caminhos Mil

"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

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"É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.", José Saramago

05.06.23

Romaria de Nossa Senhora dos Verdes


Emília Matoso Sousa
Data: 28 de maio 2023

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Festas e romarias. Este é um capítulo fundamental quando procuramos informação sobre as nossas vilas e aldeias. E não precisamos de pesquisar muito para perceber que, ao longo do ano, por todo o país, há uma agenda quase infinita de festividades, maioritariamente de cariz religioso, que vão animando as nossas populações. Haverá manifestação mais genuína do que um povo que põe em prática as suas tradições, as suas heranças culturais, aquelas que lhe são passadas no momento do nascimento como se do seu ADN fizessem parte?

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Há dias, tive a oportunidade de participar na Romaria de Nossa Senhora dos Verdes, que faz parte do programa de festas de Abrunhosa-a-Velha, no concelho de Mangualde, e que mobiliza 'peregrinos' das freguesias circundantes. Realiza-se 50 dias depois do domingo de Páscoa ou, para facilitar as contas, no sétimo domingo após essa celebração. Para os mais conhecedores de temas relacionados com a Igreja, é no dia de Pentecostes, palavra que em grego significa, precisamente, quinquagésimo, e que póe fim ao tempo pascal. É, pois, uma data muito importante no calendário cristão.   
A romaria, bem como uma procissão, dirige-se à ermida de Nossa Senhora dos Verdes, situada a cerca de 2 Km de Abrunhosa-a-Velha, onde se realiza uma missa campal e onde, depois de um almoço no campo, junto à ermida, têm lugar atividades várias com música e muita animação. Este ano, devido à chuva abundante, o tradicional almoço foi realizado dentro de portas, na Casa do Povo de uma das freguesias.  

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Da Senhora dos Verdes só recentemente ouvi falar, o que não admira, dada a variedade de nomes que a Senhora assume, consoante as diferentes causas que assiste. Ora, neste caso, ela protege a agricultura de pragas e de fenómenos naturais, para que as colheitas sejam boas e fartas. Trata-se de uma devoção que teve início, supostamente, do século XVI, quando uma praga de gafanhotos atacou os campos do concelho de Mangualde, bem como outros concelhos ali à volta, e só a intervenção de Nossa Senhora os exterminou. Desde então, os devotos de algumas das freguesias vizinhas deslocam-se ali em romaria religiosa com algumas notas que a tornam bastante pitoresca. 

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20230528_094518.jpg20230528_091118.jpg20230528_085355.jpgTradição é tradição...
E por isso, quer chova, quer faça Sol, sozinho ou acompanhado, a tradição manda que se vá a pé. E é a pé que se percorrem os cerca de oito quilómetros que separam Santiago de Cassurrães, a romaria que acompanhei, da ermida da Sra. dos Verdes, com passagem por Póvoa de Cervães. Parte do percurso pela serra, parte pela estrada. Este ano, debaixo de uma chuvinha bastante persistente. A partida é muito cedo e todos levam farnel para um segundo pequeno-almoço a meio do caminho. Um farnel para partilhar, pois então, em que não falta pão nem... chouriças. As chouriças são, aliás, as protagonistas, com direito a flores e lugar de destaque. Quase todas feitas pelos próprios, o que dá azo a uma pontinha de salutar competição. E há uma (chouriça) de tamanho gigante... 

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20230528_103118.jpgA fé e a devoção estão bem presentes, seja nas orações, em voz alta numa parte do percurso, seja nas três voltas dadas em torno das igrejas do caminho. Rituais que todos sabem de cor.

20230528_094616.jpgDe facto, aquilo que melhor define um povo são as suas tradições. Há, no entanto, uma tradição que é comum a todos os Portugueses. É que não há celebração que não termine à volta de uma mesa posta com aquilo que cada região tem de melhor, seja ao nível do sólido, seja ao nível do líquido, que isto de caminhar cansa bastante e gasta muitas energias. Portanto, alimentado o espírito, há que alimentar o estômago, já no regresso a Santiago de Cassurrães. Desta vez, calhou um saboroso rancho à moda das Beiras. E que bom que estava!